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Mostrando postagens de setembro 2, 2012

Cantando para a lua

No céu, a lua sorria para Maria. Era para ela, tinha certeza. Um sorriso tão aberto. Sinal de coisa boa por vir. Maria escolheu uma calcinha especial. Caprichou no decote, nem muito aberto, nem muito tampado, com um quê de quero mais. Passou o perfume. Saiu certa de que a noite, assim como a lua, era dela. Maria chegou no samba e era tanto João. Um havia de ser dela. E ela se jogou na roda. E rodou a saia. Era falsa baiana, mas encantou. Maria arrancou olhares, ganhou sorrisos, sonhou com as promessas. A noite era dela, a lua não brincaria com isso. O sol raiou, a lua se escondeu, o samba acabou. Maria tirou os sapatos, foi caminhando descalça, de volta à vida. O saldo da noite foi um bilhete, com um número de telefone. Talvez só isso. Talvez um novo começo. Talvez outra frustração. Fosse o que fosse, era o presente da lua, da lua que sorriu.

Bem querer - Chico Buarque

Quando o meu bem-querer me vir Estou certa que há de vir atrás Há de me seguir por todos Todos, todos, todos o umbrais E quando o seu bem-querer mentir Que não vai haver adeus jamais Há de responder com juras Juras, juras, juras imorais E quando o meu bem-querer sentir Que o amor é coisa tão fugaz Há de me abraçar com a garra A garra, a garra, a garra dos mortais E quando o seu bem-querer pedir Pra você ficar um pouco mais Há que me afagar com a calma A calma, a calma, a calma dos casais E quando o meu bem-querer ouvir O meu coração bater demais Há de me rasgar com a fúria A fúria, a fúria, a fúria dos animais E quando o seu bem-querer dormir Tome conta que ele sonhe em paz Como alguém que lhe apagasse a luz Vedasse a porta e abrisse o gás

Amor precoce

Eles se viram. Foi à primeira vista. Ela sabia que tinha encontrado o homem certo, o caso certo, o marido certo, o pai certo, o companheiro certo, o amor perfeito. Ele olhou pra bunda dela e não gostou. Fim de caso.

Dragão desperto

- Ele despertou o dragão adormecido! A frase foi no mínimo surpreendente. Depois de um final de semana no sítio, com um novo e inusitado namorado, a frase era tudo o que ela precisava e tinha a contar à neta. Ele tinha mesmo despertado algo que dormia há tempos. A avó chamou de dragão porque parecia algo grande, incontrolável, feio e até assustador. Na verdade, era só desejo. Essa Maria já tinha passado dos 70. Aliás, tinha acabado de completar. O inusitado namorado, que também acabara de passar dos 70, fora apresentado pela família do namorado da neta. Ela já nem esperava um amor, depois de tantos anos desquitada. Mas ele apareceu, agradou. Era viúvo, tinha renda, gostava da vida. Foram para o sítio dela para se conhecerem melhor. Dia agradável. Muitas conversas. Cada um tinha mais de 70 anos para escolher boas histórias. E tinham boas histórias para contar. O dia passou devagar. À noite, na hora de se recolher, com os dois quartos preparados para o descanso, ele disse, quase...