Todas as Marias

Ele acenou na porta da sala de embarque. Era a última chamada. Ela não segurou mais o choro. O horário do vôo era uma decisão arbitrária da vida, não deles. A vida promoveu o encontro Eles desfrutaram a história A vida trouxe a passagem de avião apenas para ele Eles aceitaram. Ele levou com ele um pedaço do amor dela Ela guardou num canto especial o pedaço do amor dele. Amor que retornaria, vestido de alguma coisa, quiçá de amor, nesses encontros que vida costuma dar.

Deus me livre de ser seu ar O sol que ilumina A única fonte da sua alegria A tal da meia laranja Essas dádivas de existir já nos foram dadas, a todos Basta desfrutar Deus nos livre de tudo que parece demasiado Eu quero ser apenas o colo que te acolhe E o cheiro que te atiça Nos dias azuis, nas manhãs frias de inverno, nas noites de lua e nos momentos de breu

O amor se manifestava nas mãos Elas percorriam o corpo dele Escaneando cada pedacinho As pontas dos dedos sabiam exatamente como era a nuca dele O contorno dos lábios e do nariz O suor que corria nas costas Quando estava longe As mãos sabiam refazê-lo inteiro Forma, textura e calor

Existe um mundo Nem imaginário nem real Pautado nas gentilezas Tem luz do sol E de gente iluminada Tem palavras ditas por quem ouve Tem pequenos gestos de bem querer Gentileza é amor espontâneo É ver-se, por instantes, com os olhos do outro E sentir-se feliz em contribuir por instantes de uma vida melhor O mundo das gentilezas é uma invenção Minha, sua, dele, dela e do outro também De tanto praticar, pode acabar virando real