Todas as Marias

Era apenas um sonho Um desejo Um plano Uma vontade intensa de ter outra vida De se refazer a dois De respirar novos ares De inventar de ser feliz Apenas um sonho abortado Um desejo jogado pela janela Uma mudança congelada Um futuro sem pra quê Era apenas o começo do fim  A falta do sonho era chover o ano inteiro chuva fina Desistir dele foi cair o elevador

Os anos passaram. As marcas do tempo estavam no andar lento, na ausência dos cabelos, no olhar sereno e no sorriso manso. A maturidade trouxe também a certeza de que poderia ter sido mais leve. Quando olhava as correrias nas ruas, lembrava que também já foi assim. Teve sim os momentos de felicidade nos momentos breves que escapuliram à rotina, mas se enganou demais com falsas promessas quem nem se lembrava sobre o quê. Fez texto, um manifesto, um hino à vida. Alertava que era preciso observar a beleza no miúdo, a doçura nos olhos, a vitalidade da vida. Saiu pela rua entregando a quem quisesse, a quem estivesse disposto, a quem criasse a sensação de que ele mesmo voltara no tempo para fazer diferente.

Muito além de mim, de ti, do outro, de nós, de todo mundo Perpassando um por um Atravessando também as coisas Há um fio Uma linha Um átomo Um sei lá o que De forma que o amor, a alegria, a angústia, a expectativa, o querer, o ganhar e o perder Se reúnem Se reorganizam Decidem E nos comunicam o que será.