Pela manhã, o gosto dele era se fazer de preguiça na cama, para observá-la se aprontar para o dia. Discretamente, para que ela não notasse o grande interesse dele na cena, o que poderia atrapalhar na beleza espontânea do momento, ele observava. Ela sai do banho, enrola a toalha no cabelo com um movimento quase artístico, passa o hidratante e um creme em cada parte do rosto e ele nem sabe mais onde, numa lógica tão feminina. Diante do armário, escolhe cada peça de roupa, numa composição minuciosa que deve ter alguma lógica. Combina as alças do sutiã com o decote da camisa, escolhe os brincos, o anel. Milagrosamente, faz sentido. Depois se maquia. Potinhos, pós, pincéis. Tantas cores. Um balé. Por fim olha para ele, como quem acabou de passar por uma transformação, e está simplesmente linda. "Vamos!" "Ao céu", ele pensa. Bom dia.