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Eu te amo

Quando se despediram pela manhã, ela disse o carinhoso "eu te amo", "eu te amo também" ele respondeu. Rotina. Todo dia eles fazem tudo sempre igual. As tarefas, os cuidados com as crianças, as compras da casa, as viagens de férias. O "eu te amo" fazia parte do cenário, assim como os móveis, o condomínio do mês, a professora da escola.

A professora da escola tinha um jeito sério e doce. Ele sempre olhou para ela, interessado em saber mais. Ela nunca deu espaço. Foram passando os dias, os meses, mais de ano. Foram aproximando as conversas, os interesses, as mãos. Numa tarde de chuva, aproximaram os lábios, os corpos, as almas. Estava feito.

Era com a professora que ele sonhava. Era ela quem ele desejava. Era o cheiro dela que entorpecia. Era o colo dela que acalmava. Passaram os meses. Outra vez era uma tarde de chuva, ela fazia um café para os dois. Enquanto olhava aquele homem que havia se instalado no seu ser, ela disse um sonoro "eu te amo".

Era um "eu te amo" sem a parcela da hipoteca, sem aniversário de sogra, sem saber o que seria do amanhã. Era um "eu te amo" nutrido por corpos que se abraçam e almas que se entrelaçam. Ele não sabia o que fazer. Não sabia o que dizer. Sorriu. Pegou suas coisas. Saiu pela porta e nunca mais voltou.

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